A era do “almoço grátis”

 

“Nas próximas décadas, as pessoas vão cada vez mais produzir e compartilhar bens e serviços, o que levará a sociedade a uma era em que quase tudo será praticamente gratuito”, reflete Jeremy Rifkin, autor do livro Sociedade com Custo Marginal Zero.

Recentemente, em conversa com a filha de 8 anos de uma amiga, ela me indagou a seguinte questão: “Por que as coisas não são todas de graça? Seria tão mais legal não precisar de dinheiro para fazer a maioria das coisas. Também não ia ter gente morando nas ruas, não é mesmo?”. Uma reflexão bem característica dessa maravilhosa fase que é ser criança. É a partir desse momento que eles começam a perceber das diferenças sociais do mundo e a tentar entender por que para quase tudo se paga um preço. Tento explicar sobre o nosso cenário econômico atual, o capitalismo, mas mesmo assim ela fica com a expressão de que meus argumentos talvez não sejam tão convincentes.

Refletindo depois, percebo que o desejo que vi em seus olhos – de um mundo mais igualitário – está longe de ser impossível, aliás, nós estamos bem no início dessa nova realidade. O mercado capitalista tende a encolher e dar lugar a chamada economia colaborativa.  – Ao final desse texto, vale a leitura dos artigos que já postei aqui no blog sobre esse assunto “A inovação da colaboração” e “Empresas se adaptam a economia colaborativa”. –

Esse fenômeno deve-se principalmente à medida que mais pessoas compartilham diversos tipos de serviços e seus bens, como casas, carros e roupas no mundo virtual, em locadoras, clubes de redistribuição e cooperativas a um custo muito baixo ou inexistente. Há também o compartilhamento de informações, diariamente compartilhamos centenas de textos, fotos e vídeos, sem cobrar nada por isso. A tecnologia 3D também abre imensas possibilidades para a impressão de diversas coisas, desde alimentos até objetos. A respeito da energia, “já existem milhões de consumidores que se tornaram produtores, gerando a própria energia renovável por um custo marginal próximo de zero”, como fala Jeremy.

São exemplos como os citados acima que as regras que regem uma economia de mercado – no quais bens e serviços são negociadas – se tornam menos relevantes para a vida da sociedade como um todo. Ficar rico não será o principal foco da maioria das pessoas, a riqueza será ter uma qualidade de vida sustentável.

Nós estamos tão aficionados com a loucura da sociedade capitalista, que eu confesso que é realmente estranho pensar nesse novo modelo. A previsão é que em 2050 seja o período que a economia do compartilhamento alcançará o seu ápice. Não sei se estarei aqui para presenciar, mas ficarei muito feliz em saber que aquela garotinha viverá em um mundo no qual tanto desejou quando criança.

 

 

*Assunto extraído da Revista Exame

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