O novo já nasce velho

Em média, quanto tempo dura até você trocar por novos modelos seus itens de consumo como smartphones, computadores, roupas e carros?

Se fosse para você escolher entre uma companhia que não tem atitudes que prezam pela sustentabilidade e outra que se preocupa com o meio ambiente e que se propõe, por exemplo, desenvolver produtos com alta durabilidade; qual você escolheria? Aliás, você já parou para buscar esse tipo de informação antes de comprar um produto?

Tá bom chega de perguntas. Acho que já deu para você refletir um pouco sobre o tema do artigo de hoje. Mesmo com uma sociedade caminhando lentamente para um consumo mais responsável, para você ter mais noção no que diz respeito apenas ao lixo eletrônico, todos os anos são despejados mais de 41,8 milhões de toneladas desses resíduos.

Na maioria das vezes o depósito é feito em cidades africanas e asiáticas. O motivo é por serem “equipamentos seminovos” que serão distribuídos para a população. Mas não é nada disso que acontece segundo a reportagem da revista Galileu que cita: “esses produtos não passam de sucata que é queimada por trabalhadores em busca de metais como cobre, bronze e zinco. Expostos aos gases tóxicos e ao solo contaminado, crianças e jovens também buscam rígidos intactos para revender”.

Quem agrava muito essa enorme quantidade de lixo eletrônico são as companhias responsáveis pela fabricação dos equipamentos, elas que propositalmente criam mercadorias que saem das fábricas com validade para deixar de funcionar. Tudo em nome de uma estratégia comercial para continuar a lucrar despertando nos consumidores o desejo de comprar novos produtos. Quanto maior a escala de fabricação de produtos, maior é o descarte de bens.

Os pesquisadores do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática, localizado na Cidade Universitária da USP, analisaram que curiosamente nos descartes de equipamentos da universidade como os computadores, após um tempo de uso os aparelhos de uma mesma marca que foram comprados juntos apresentavam os mesmos problemas. E mais, logo após o período de garantia do fabricante expirar.

Infelizmente o rápido ciclo de validade de mercadorias faz parte das ações de vendas das empresas. Como exemplo vamos citar os smartphones, quem se lembra daqueles aparelhos da Nokia que pareciam ser feitos de tijolo por serem quase inquebráveis? Já vi sátiras de pessoas que até mesmo colocaram o celular dentro do liquidificador pra ver se assim ele estragava. Apesar de todo o imenso avanço dos celulares, hoje eles são mais frágeis. E são esses gadgets que assumem a liderança de produto mais trocado pelos consumidores.

“Nossas escolhas definem quais decisões de projetos foram bem-sucedidas, e as empresas sempre recorrem aos usuários para projetar seus produtos”, disse o professor Ivan Mota. É isso que as companhias fazem antes dos lançamentos, pesquisam as preferências e os hábitos de consumo para depois desenvolver novos equipamentos fazendo com que o consumidor queira comprar cada vez mais.

Consequentemente a responsabilidade pela grande parcela de lixo consumida globalmente também é sua. Não posso negar que algumas estratégias vão à contra mão dessa atitude ‘anti-sustentabilidade’, como na opção de operadoras e fabricantes de aceitarem o seu modelo antigo como uma parte do pagamento ao adquirir o novo. – Mas isso é muito pouco.

Eu sei o quanto às vezes pode ser tentador não comprar um produto mais novo, mas resista e se questione coisas do tipo: Eu realmente necessito desse equipamento? Há grandes diferenças entre esse novo modelo do que o que eu possuo?

Pesquise antes de comprar, indague as ações da sua marca favorita, pense como sua atitude de consumo pode afetar o planeta. Em muitas situações é mais vantajoso compartilhar, alugar ou consertar, do que propriamente comprar.

Veja as dicas da revista Galileu para aumentar a durabilidade de alguns produtos:

*Assunto baseado na reportagem da revista Galileu