Estamos em choque com toda essa polêmica de fotos e vídeos vazados nas redes sociais que envolvem o falecimento do cantor Cristiano Araújo. ‘Estamos’, certo? Ou você também compartilhou essas imagens e gravações? Aliás, quantas vezes você recebeu esses tipos de arquivos desde que esse fato lamentável comoveu o nosso país?
– Infelizmente – chegamos ao momento de discutir sobre a ética do mundo digital, sobre os nossos valores que estão se perdendo, sobre as condutas do ‘gravar, fotografar e divulgar’ que não revelam nenhum tipo de respeito, sobre a ausência de zelo e imprudência com o próximo.
Na madrugada de terça-feira (23), o cantor Cristiano Araújo e sua namorada, Allana Moraes, morreram em um acidente de carro na BR-153, em Goiás. Desde então começou a circular pela web, vídeos do cantor sendo resgatado ainda no local do acidente e imagens de Allana morta na rodovia. Esses arquivos compartilhados nas redes sociais não pararam por aí, uma séria de fotos do corpo do cantor tiradas antes do velório também chegaram a milhares de pessoas, nos quais o sertanejo aparece em macas, depois de terno, e também imagens do rosto de Allana sendo reconstruído.
A repugnância maior aconteceu quando dois profissionais faziam a preparação do corpo do cantor para o funeral. Imagens fortes em que uma mulher, técnica em tanatopraxia, gravou o momento em que seu colega de trabalho realizava o procedimento. A mulher aos risos ainda falou, “dá um tchau aí”.
Depois do bombardeio de imagens chocantes, a gravação foi à gota d’água para os milhares de fãs que repudiaram a ação por meio das redes sociais. O caso foi parar na polícia, e os dois funcionários foram afastados do cargo e indiciados por vilipêndio de cadáver.
Tem pessoas que falam mal desta iniciativa, mas ficam loucas querendo ver, comentar, fofocar e depois recriminar a atitude. Analisando o caso, a psicóloga Renata Chaves explica. “Tudo vai depender da pessoa, claro. Não podemos generalizar nada. Mas, no geral, quem apenas vê pode ser motivado pela curiosidade. […] Vejo uma curiosidade desmedida. Que não cuida de si mesmo e nem do outro”.
Não é de hoje que isso acontece. Está dentro do ser humano a curiosidade de saber mais sobre o desconhecido. Essa questão fica ainda mais forte quando se trata da morte. Nós não sabemos o que acontece quando chega esse momento, e a mínima descoberta já é interessante para muita gente. O problema é que isso pode muitas vezes ferir os nossos princípios, como agora através do Cristiano e da Allana.
Renata explica ser difícil analisar o caso sem conhecer as pessoas envolvidas, contudo afirma que os indivíduos que filmam e tiram fotos nessas situações, podem ser inseridos em algum grau de psicopatia e também de um distúrbio antissocial.
Com a ascensão do mundo virtual e assim das redes sociais, presenciamos uma dolorosa frieza, a ênfase na coisificação, a banalização e ausência do sagrado. “Acho que todos nós temos perdido essa dimensão sagrada e nos transferido para a dimensão da coisa”, explica à psicóloga.
Até quando esse tipo de conduta irá durar? Vocês conseguem perceber que a ação de compartilhar esse tipo de arquivo também é errada? Não pensem que apenas os autores que fotografam e filmam sem escrúpulos essas cenas agem negativamente. Você também se torna um envolvido quando passa adiante tudo isso, acabando assim sustentando um círculo vicioso de tal curiosidade que anda transformando – muitas vezes inconscientemente – as pessoas.
As tecnologias estão potencializando as informações, e uma vez postado qualquer tipo de informação, ninguém mais consegue ter controle sobre aquela mídia e sua audiência. É assim que esses meios estão disseminando uma série de casos e fatos que estão destruindo a moral e reputação de inúmeras pessoas envolvidas. Foi assim no ‘caso Fran’, a garota que teve vídeos de sexo divulgado na internet, ou em outros tipos de violência psicológica, como nos casos de bullying. Reflita como o fato de compartilhar também tem forte influência para causar estragos em muitas vidas.
São famílias, sentimentos, emoções, pessoas. Devemos ter zelo com tudo isso. E jamais uma polêmica, filmagem ou uma foto, valerá mais do que o respeito com o próximo.
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Realmente… É deprimente constatar que o acesso e a popularização das novas tecnologias tenham eliminado da nossa sociedade o pudor e um mínimo de respeito pela privacidade e dor do outro.
Somos uma sociedade decadente. Até que ponto vai essa decadência?
Precisamos cair na real e recuperar alguma decência e humanidade.